Situação frauda eleição de 1990 e oposição sai fortalecida
1990 a 1993
Em nova eleição no ano de 1990, entre os dias 22 e 25 de maio, a possibilidade da oposição vencer era de 80%, o que levou a situação a fraudar o processo. A violência marcou aqueles dias até mesmo com arma na cabeça dos integrantes da chapa da oposição.
Para validar a chapa a situação realizou uma assembleia com 400 trabalhadores na sede contrários à direção, que não tinha mais credibilidade na categoria, porque sabiam que teriam no máximo 20% dos votos.
O presidente José Joaquim saiu vitorioso, mas foi o período em que o Sindicato se mostrou fraco nas negociações e junto da categoria, tendo muitas ações na Justiça trabalhista e dilapidação de patrimônio. O Boletim Mobilização Química de 13 de julho Ano III nº 19 trata do resultado da eleição realizada em maio que manteve a mesma direção no Sindicato.

No início do ano, em Boletim de 08 de fevereiro nº 46 o título “Categoria reafirma José Joaquim na presidência”, informa que os demais integrantes da diretoria tentaram realizar uma assembleia para tirar José Joaquim do Sindicato, mas não conseguiram. O documento relembrou a assembleia realizada no dia 4, na sede do sindicato dos Metalúrgicos em que oficializou os diretores e que estariam à disposição às empresas. Critica os demais diretores e convoca os liberados, que foram afastados em 1988, afastando-os do Sindicato
Em registros arquivados, a situação convocou uma assembleia por edital publicado em 02 de fevereiro, sem identificação de jornal, com a pauta de: 1) manter a presidência e 2) manter diretores afastados em 1988. Os afastados foram à Justiça e conseguiram permanecer na direção.
O boletim de oposição Alternativa Química de fevereiro destaca que a luta e a combatividade que queriam implantar, um trabalho voltado para a base, presente nas fábricas, a importância da organização da categoria, que os trabalhadores “tornaram-se direção do movimento dentro das fábricas”.
No documento datado de 02 de maio, não consta o nome de José Joaquim como presidente. O edital publicado no Correio Popular em 24 de outubro convoca para assembleia de aprovação do balanço das contas do ano anterior.
Tensão e fraude marcam dias da eleição em 1990
Durante os dias da eleição em maio, Zé Mário*, que auxiliava a oposição na questão jurídica, contou que a situação não queria abrir mão do Sindicato e colocou pessoas para “atrapalhar o processo, para fraudar mesmo”, que foi preciso ficar quatro dias e quatro noites sem dormir rodando as fábricas ou na sede. O momento mais tenso foi para reunir as urnas, que normalmente eram levadas ao 8º Batalhão da Polícia Militar para garantir a segurança, teve urna que foram sequestradas, outras sumiram na Rhodia.
As ameaças eram reais, Zé Mário teve arma apontada na cabeça para não delatar a troca de urnas que estava vendo ocorrer dentro da casa. Depois que foi liberado conseguiu avisar os demais que as urnas tinham sido trocadas porque a situação ficou a noite inteira preenchendo votos, colocaram fogo em votos e fizeram outros, contando com a presença de bate-paus.
Quando a oposição ficou mais perto da apuração, percebeu que a situação havia chamado um advogado, conhecido por fraudar as eleições. O perigo era constante para todos que recebiam ligações ameaçadoras e precisavam andar armados, mesmo contra a vontade. Assim como, a demissão de integrantes da chapa de oposição: Amado Valério, Jorge Rodrigues e Santo.
O dirigente Arlei Medeiros*, trabalhador da Ashland, contou um momento tenso naquele dia: ao chegar na sede, não sabia que os integrantes da oposição haviam sido expulsos a base da arma, então um porteiro do prédio próximo falou para ele “acho que você não está entendendo o pessoal foi expulso daqui na porrada, na bala e você chega aqui apavorando, por favor, vai embora senão vão quebrar você”.
A partir dessa irregularidade, a oposição buscou a Justiça para impugnar a eleição e a situação se estendeu até o ano seguinte. Enquanto isso, a oposição foi ganhando respeito e informando a categoria por meio de boletins.
Arlei contou que a oposição procurava inviabilizar a situação realizando diversas assembleias, não incentivavam a sindicalização, não aprovavam o assistencial, uma forma da situação receber recursos das empresas, faziam boicote ao imposto sindical. O estrangulamento financeiro do Sindicato levou a dilapidação do patrimônio do Sindicato para cobrir gastos com seguranças e bate-paus, deram o carro como garantia e continuaram recebendo de alguns patrões que sustentavam o grupo justamente para a direção não ser combativa e envolver os trabalhadores nas lutas.

21 de abril de 1991 trabalhadores retomam Sindicato
No dia 21 de abril de 1991, centenas de trabalhadores se mantiveram na frente do Sindicato, buscando mudar a situação que aquele Sindicato manitnha. A direção chamou assembleia quando viram que os trabalhadores estavam contra eles, tentaram cancelar para perder a validade, mas os trabalhadores insistiram, exigiram a saída deles e elegeram a junta governativa provisória com 3 dirigentes: Sávio, Roberto (passarinho) e Brás.
A situação estava tensa dentro da sede, os trabalhadores arrombaram a porta e fizeram a assembleia lá dentro expulsando os pelegos. Os integrantes da junta ficaram por 2 semanas na sede para garantir que os diretores anteriores não voltassem, período em que o local foi atacado por tiros. Nos 4 anos seguintes, a vida dos novos dirigentes foram ameaçadas e tiveram suas casas vigiadas.
Arlei relembra das dificuldades em militar no Sindicato “eu mesma quando entrei na fábrica tinha que atuar clandestinamente, caladinho, eu só fui botar um pouquinho as asas pra fora quando eu me elegi vice-presidente da Cipa”. E reforçou que o importante era se manter empregado para ter o respeito dos trabalhadores.
Seriedade, transparência e lutas
Na década de 1990, os sindicalistas em todo o país perceberam que com a consolidação do neoliberalismo, o trabalhador seria muito mais prejudicado, para além das fábricas, que era preciso olhar o ser humano como um todo, seu momento de estudo, de lazer e com a família. Assim, os sindicatos entram na luta política e social do país, apoiando a luta pela terra e por justiça social. Com a retomada do Sindicato pelos trabalhadores, os novos companheiros dirigentes inserem o Sindicato de Campinas na vanguarda do novo sindicalismo.
Assim, o Sindicato dos Químicos de Campinas e Região participou em 1992 do primeiro ato unificado para o Fora Collor, com a presença de Lula (PT) e Mário Covas (PSDB) em Campinas, rivais históricos com lutas travadas de forma muito respeitosa, como a política deve ser, ter opiniões divergentes não significa vale tudo, fake News, ofensas e violência.
O Sindicato conseguiu se organizar financeiramente em sua administração em 1992, adquiriu a sede na Av. Barão de Itapura e inaugurou o espaço com a presença de trabalhadores, de sindicalistas de outras categorias, com debates, música, espaço creche. Um marco inicial para a categoria quanto ao patrimônio e sua utilização voltada para todos e todas.
As subsedes foram reabertas, a colônia de férias foi retomada, a gestão é reorganizada e dividida em secretarias (imprensa, saúde, jurídico, administrativo e política sindical), o imposto sindical é devolvido aos associados e não era cobrada a taxa confederativa.
Ano em que levaram solidariedade aos trabalhadores sem terra em ocupação na cidade de Iperó (SP), que não tinham alimentos para suas famílias. O sindicato então, promoveu uma ação em que conseguiram entregar alimentos básicos. A tipografia do local dificultava o acesso e foi preciso fazer uma corrente humana para a passagem dos alimentos.
1993 também foi outro ano importante para os trabalhadores que participaram de uma eleição democrática, legal e transparente para eleger seus dirigentes com o resultado de 87,15%. A direção passou a ser colegiada em que todos e todas têm os mesmos direitos e responsabilidades, extinguindo a figura do presidente da entidade e consolidando maior espaço para a presença de jovens e mulheres na direção.

Campanha nacional da CNQ e CUT pelo turno de 6 horas e para a 5ª turma, que representava mais saúde e mais tempo de vida. Em Campinas, trabalhadores da Du Pont e a Celuplás entraram em greve para pressionar as empresas pela mudança.